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Mestre Escolhido




MESTRE ESCOLHIDO


Este grau começa com Zabud, amigo do rei Salomão, a pedir clemência. Para a maioria dos Companheiros, Zabud é apenas mais um personagem caricato do passado. No entanto, uma leitura dos textos da Sagrada Escritura revela que ele foi verdadeiramente um amigo e companheiro do rei Salomão. 

Zabud, era filho de Nathan, o Profeta, que era o principal conselheiro do rei David. Foi através da estratégia de David, Nathan e Bath-Sheba que Salomão chegou ao trono de Israel, quando o herdeiro natural do trono deveria ter sido Adonias. Zabud devia ter a mesma idade de Salomão e, provavelmente frequentado a Corte, onde adquiriu a amizade e notícia favorável de Salomão, tornando-se mais tarde um "amigo particular e favorito" do rei Salomão.

O Mestre Delegado refere na abertura dos trabalhos o número 27, número que é também mencionado na cerimónia de encerramento. Alguns autores acreditam que os 27 membros não passam de uma invenção, ou que era um número obtido através da soma de um elemento de cada uma das doze tribos de Israel, os três operários que descobriram o triângulo escondido por Enoque antes do dilúvio, os nove Mestres dos Arcos, um dos quais Ahishar, e os nossos três Grão Mestres.

Adoniram, diversas vezes mencionado no texto bíblico, era de acordo com Samuel [II Livro de Samuel cap. 20, v 24], um cobrador de impostos do rei David, que manteve as funções durante o reinado de Salomão [I Reis 4:6]. Sobre Adoniram, no Livro dos Reis [I Reis 05:14], conta-se a história da sua nomeação pelo rei Salomão para dirigir os cortadores de árvores nas montanhas do Líbano. O último relato de Adoniram é-nos apresentado no segundo Livro de Crónicas [II Livro Crónicas 10:18], onde nos é dito que foi apedrejado até a morte, 47 anos depois de tornar-se um cobrador de impostos para o rei.

O grau de Mestre Escolhido ou a construção da abóbada secreta ocorre entre a primeira e a segunda secção do Grau de Mestre Real. Este facto, explica-se, dizendo que os segredos do Mestre Escolhido não foram trazidos à luz até muito tempo depois da existência do grau de Mestre Real ter sido conhecido e reconhecido. Em outras palavras, para falar apenas de um ponto de vista tradicional, o grau de Mestre Escolhido tinha sido reconhecido, e tinha realizado a tarefa para a qual foi seleccionado, tinha terminado o trabalho, sem nunca ter sido abertamente reconhecido como uma classe no Templo de Salomão. A sua existência, segundo a lenda, era pois, desconhecida no primeiro Templo.

Um personagem mencionado no grau de Mestre Escolhido é o de Ahishar. Personagem que é referido no primeiro livro de Reis [I Reis, cap. 6], onde se diz que na casa do rei Salomão ele seria o "Prefeito do Palácio". Como tal, teria autoridade sobre a família, os seus agentes, e a sua gestão. Daqui, vem a dúvida, a autoridade para a referência de Ahishar como "prefeito do Palácio".

A sua introdução no grau de Mestre Escolhido é puramente mítica, na medida do que diz respeito à história real. Em um antigo ritual manuscrito de um século ou mais atrás, o nome de Ahishar aparece como Cobridor da Loja.

Se o castigo imposto a Ahishar foi merecido, é toda uma outra questão, para a história não passa de uma referência lendária. O que nos ensina é a constante vigilância que é necessária para travar a guerra da vida, pois somente aqueles que estão constantemente em guarda serão bem sucedidos. Devemos sempre estar atentos e guardar o Portão Oeste, pois o "Senhor que cuida de Israel não dorme."

Considerada como uma questão histórica, não há dúvida da existência de imensas abóbadas debaixo da super-estrutura do Templo original de Salomão. Diz a lenda que Josias, prevendo a destruição do Templo, ordenou aos levitas o depósito da Arca da Aliança na abóbada secreta, onde foi encontrada por alguns dos trabalhadores de Zorobabel, na construção do segundo Templo.

Nos primeiros tempos, a caverna ou abóbada, era considerada sagrada. Como ensinava a doutrina nos antigos mistérios era a ressurreição de entre os mortos, morrer e ser iniciado eram sinónimos. Foi por isso considerado apropriado que deveria existir alguma semelhança formal entre uma descida para a sepultura e a descida para o lugar de iniciação. "Feliz é o homem...", diz o poeta grego Píndaro, "que desce abaixo da terra oca, tendo contemplado estes mistérios, pois ele sabe o final, bem como a origem divina da vida." Sófocles acrescenta "Três vezes felizes são os que descem para os terrenos abaixo após terem contemplado esses ritos sagrados, porque somente eles têm a vida no Hades, enquanto todos os outros sofrem lá todo o tipo de mal. "

Temos, por isso, de descer à abóbada secreta da morte antes de encontrarmos o sagrado depósito da verdade, que adorna o Templo da vida eterna. È por isto, que o Mestre Escolhido vê o simbolismo escondido, mas bonito, da abóbada secreta. Verdadeiro ou falso, a lição está lá e o simbolismo ensina exclusivamente a história.

A palavra deste grau significa muito claramente um homem do conselho íntimo, um homem da minha escolha, um escolhido para compartilhar comigo uma tarefa secreta. Essa foi a posição de cada Mestre Escolhido para o rei Salomão, e neste ponto de vista, não estão errados aqueles que interpretaram ISH SODI no sentido de um "Mestre Escolhido". 

Autêntica ou não, a Lenda maçónica ensina-nos que havia uma arca no segundo Templo, mas que não era nem a Arca da Aliança, que tinha estado no Santo dos Santos do primeiro Templo, nem a que havia sido construída como substituta, após a construção do segundo Templo. A Arca apresentada no grau de Mestre Escolhido, sendo uma cópia exacta da Arca perdida, é conhecida como a Arca substituta.

Os Geblitas, ou habitantes de Gebal, estavam sujeitos ao rei de Tiro e foram distinguidos pela sua habilidade como construtores. A cidade de Gebal, local onde se celebrava o culto de Adonis, cujos mistérios e a iniciação que o acompanhava, assemelhavam-se, no seu simbolismo e ensinamentos alegóricos, à iniciação na Maçonaria, mais do que em qualquer outro dos ritos antigos. 

Não é, por isso, difícil perceber, que os Geblitas, ocupassem um lugar de especial confiança perante o Rei Salomão, mais do que qualquer outro construtor do Templo. É digno de nota, neste momento, dizer que Hiram Abif teve a oportunidade, pelo menos 40 anos antes, de ajudar na construção do Templo e de ter sido iniciado nos mistérios de Adonis.

Os antigos atribuíam uma virtude mística e divina aos números. A doutrina foi especialmente ensinada na escola de Pitágoras, e posteriormente pelos cabalistas, de onde, advogam alguns autores, passou para a Maçonaria. Do estudo dos números, uma parte importante correspondia ao estudo do seu simbolismo. Simbolismo esse, que em Maçonaria, difere substancialmente dos pitagóricos e dos cabalistas.

Na Maçonaria, os números ímpares, sozinhos, são considerados místicos, de acordo com a antiga doutrina, onde era ensinado, que os números ímpares eram agradáveis aos deuses. Assim, 3, 5, 7 e 9 são considerados números maçónicos. Três é o fundamento do simbolismo maçónico dos números, pois é o primeiro número estranho após a unidade, e é particularmente aplicável para os graus mais baixos. Nos graus mais elevados, o 9 entra em jogo, assim como o quadrado de três e 27, que é o cubo de três e, finalmente, 81, que é o quadrado de 9.

O número nove é o número sagrado do Mestre Escolhido, o qual, no entanto, refere também 27, que é o produto de nove, multiplicado por três. Nove foi chamado pelos pitagóricos, como o número da conclusão e, como tal, completa o círculo da ciência maçónica. O número nove alude, ainda, aos nove atributos da divindade:

    1. Beleza 6. Omnisciência
    2. Sabedoria 7. Justiça
    3. Poder 8. Misericórdia
    4. Eternidade 9. Perfeição
    5. Infinito

Diz-se que a Pedra da Fundação, que neste grau é representada pelo altar, em que é colocada a Arca Substituta, constitui um dos mais importantes símbolos, mas também mais confuso e de difícil compreensão da Maçonaria.

A Pedra da Fundação no simbolismo maçónico, é suposto ter sido uma pedra colocada no momento da fundação do Primeiro Templo, ou de Salomão, e mais tarde, durante a construção do segundo Templo, transportada para o Santo dos Santos. Tinha a forma de um cubo perfeito, e tinha inscrito na sua face superior, dentro de um triângulo equilátero ou delta, o sagrado tetra-Grammaton, ou o nome inefável de Deus.

Os talmudistas hebraicos chamaram-na "Pedra da Fundação", porque, como eles disseram, tinha sido colocada por Jehovah, na fundação do mundo e, portanto, como afirma o livro apócrifo de Enoque a pedra “que apoia os cantos da terra”.

A Lenda conta-nos que Enoque mandou fazer uma placa triangular de ouro, cada lado tinha um côvado de comprimento; enriqueceu-a com pedras preciosas e incrustou-a em cima de uma pedra de Ágata da mesma forma. No prato, gravou o verdadeiro nome de Deus, ou o Tetragrammaton, e colocou-o na pedra cúbica, conhecida posteriormente como a Pedra da Fundação; depositou-a depois dentro do menor dos nove arcos verticais da abóbada.

Após a morte de Enoque, Matusalém e Lameque, e a destruição do mundo pelo dilúvio, todo o conhecimento da abóbada ou Templo subterrâneo e da Pedra de Fundação, com o inefável nome de Deus inscrito sobre ela, foi perdido.

A Pedra da Fundação e o Triângulo voltam a aparecer no edifício do Templo de Salomão, quando o rei Salomão cava os alicerces do Templo e descobre a abóbada, o  triângulo, e a Pedra da Fundação que, por segurança e sabedoria, são depositados num lugar seguro e secreto, para que o Inefável Nome possa ser preservado em tempos futuros.

O grande objectivo de todo o trabalho maçónico é a Verdade Divina. A busca da Palavra Perdida é a busca da verdade. Mas a Verdade Divina é um termo sinónimo de Deus. O Nome Inefável é um símbolo da verdade, porque Deus e só Deus é a Verdade. No Sistema Maçónico existem dois templos, o primeiro templo em que os graus de Antiga Arte da Maçonaria estão em causa, e o segundo templo em que os graus mais elevados e, especialmente, o Arco Real, estão relacionados. 

O primeiro templo é um símbolo da vida presente, o segundo templo é um símbolo da vida que há-de vir. O primeiro Templo, a vida presente, deve ser destruído, para que sobre os seus fundamentos, o segundo Templo, a vida eterna, possa ser construído.

E assim chega-se ao resultado final, a Pedra da Fundação Maçónica, tão visível no grau de Mestre Escolhido, símbolo da Verdade divina, sobre a qual toda a Maçonaria especulativa é construída. As lendas e tradições que se referem a ela destinam-se a descrever, de forma alegórica, o progresso da verdade na alma, a busca do que é o trabalho do Maçon e a descoberta da sua recompensa.


© Erros ortográficos cometidos ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico para a Língua Portuguesa.


Bibliografia 


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