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O numero 5



“Não sei ler, nem escrever: só sei soletrar. Dá-me a Primeira letra e eu dar-te-ei a Seguinte”. “Não posso pronunciá-la, mas soletrá-la-ei contigo; dás-me a Primeira letra e eu dar-te-ei a Segunda”…Os Rituais para a emissão da Palavra Sagrada nos Graus de Aprendiz e Companheiro são, também, uma orientação para a atitude que o postulante deve ter neste percurso: recebe alguma instrução, são-lhe apresentados alguns mistérios, mas deverá ele próprio encontrar e elaborar dentro dele as respostas para os mistérios e segredos com que se depara.

Na Ordem Maçónica, essas respostas e segredos desvendados nunca são definitivos, mas são sempre justos, e adequados ao Grau em que se encontra o postulante. É a natureza polissémica da Palavra, são os diferentes mantos que se vão afastando na descoberta dos símbolos e mistérios na construção do Templo.
Heraclito afirmou que a “natureza, a realidade, gosta de se esconder " e que esta realidade escondida está além do alcance dos homens que apenas confiam implicitamente na percepção dos seus sentidos - o mistério é desvendável pela razão e analogia.

Para a realização deste trabalho procurámos estudar o número do Grau de Companheiro, o 5, e as construções a ele associadas.

Nas cinco viagens do Grau de Companheiro que nos alertam para os 5 sentidos, aprende-se que é com a conjugação de todos que melhor se apreende a Verdade. Por um ou dois, podemos ser induzidos em erro, com todos estaremos mais confiante nas conclusões que retirarmos.

O 5 é um número altamente cabalístico. O número cinco – cinco degraus de acesso ao templo – é o número do Companheiro. Ligado ao Pentagrama, é, também, o número Hominal, simbolizando os cinco aspectos do ser humano: físico, emocional, mental, anímico e consciente.

(Neste ponto, detive a leitura e assumi um parêntesis, espontâneo, explicando a referência ao Reino Hominal: trata-se de um 4.º reino, para além dos reinos Mineral, Vegetal e Animal, e que se reporta apenas “ao que é do Homem”.)

O número cinco traz-nos também a expansão para além de três dimensões. Eleva o potencial da matéria, mas espelha a unidade. Simbolicamente, é a Unidade adicionada à matéria. Destacando-se entre os múltiplos símbolos criados pelo Homem, temos o pentagrama, que evoca uma simbologia múltipla, mas centrada no número 5 e exprimindo a união dos desiguais. As cinco pontas do pentagrama simbolizam uma união fecunda entre o 3, que significa o princípio masculino, e o 2, que corresponde ao princípio feminino. Desta forma, pode ilustrar ainda o ente andrógino.

Através dos séculos houve sempre a preferência por uma estrela de cinco pontas como figura dos astros de aparência menor do que a do sol e da lua. O planeta Vénus tem sido representado assim e é considerado uma estrela tanto matinal como vespertina, inspirou lendas sem conta. Por outro lado, A Estrela de Cinco Pontas sempre foi, desde tempos remotos e até hoje, o distintivo de comandantes militares, e de generais.
E quando o Homem é expressado como um Pentagrama, então o Homem junta simbolicamente o Céu e a Terra.

No Pentagrama, estão representados os cinco sentidos, as cinco formas sensíveis da matéria e as cinco formas sensíveis do espírito. Cinco é a idade do Companheiro e segundo os pitagóricos o número cinco é o sinal de união, o número nupcial. A geometria do pentagrama e suas associações metafísicas foram exploradas pelos pitagóricos, que o consideravam um emblema de perfeição, como veremos adiante.
O Pentagrama, expressão geométrica do número 5, pode ser construído a partir da secção de ouro, com a ajuda apenas do esquadro e do compasso. Esses instrumentos são os prolongamentos exteriores de uma faculdade interior: a medida, que é a capacidade típica dos seres humanos de conhecer seus próprios limites, assim como os limites do mundo exterior para ser, eventualmente, capaz de ultrapassá-los. Em seu grafismo, como referimos, o pentagrama simboliza também a união do princípio masculino com o princípio feminino em uma entidade única. Ele é portanto a imagem do andrógino, que é o ser humano perfeito das origens.
Ao observar a natureza, podemos discernir os factos e realidades curiosas que podem ser descritos nas relações encontradas na figura geométrica do pentagrama, e foram descritos de diversas formas como “a proporção dourada,” “secção dourada,” e pela vigésima primeira letra do alfabeto grego, F (phi, de Fídeas, escultor e arquitecto grego, amigo e protegido de Péricles,). A proporção é definida como a divisão de uma linha na maneira mais económica possível de modo que a parte menor esteja para a maior na mesma proporção em que a parte maior estará para o todo.

É também conhecida como "A Proporção Dourada", que a partir da arte helénica pode ser encontrada em tantos projectos de templos, desenhos de espaços públicos e grandes construções. A natureza sabe utilizar espontaneamente a secção de ouro. Por exemplo, a disposição das folhas em torno de um caule, para que sejam expostas ao sol ao máximo possível, está matematicamente ligada à secção divina. O mesmo vale para certas conchas, assim como por um certo número de galáxias, sem contar que quase toda a arte antiga (templos, pirâmides, etc.) foi erigida segundo as proporções da secção de ouro.

Os pitagóricos atribuíam virtudes especiais ao pentagrama porque é uma figura que pode ser construída uma linha única linha fechada entrelaçada ("Laço Infinito"), sendo por isso um símbolo de perfeição, a forma mais simples de estrela. E na Idade Média, o pentagrama era o símbolo da verdade e de protecção contra os demónios, usado como um amuleto de protecção pessoal e guardião de portas e de janelas. O pentagrama foi por isso sempre associado com o mistério e a magia, sendo o símbolo de toda criação mágica.
O pentagrama pitagórico, mais do que um símbolo de conhecimento, tornou-se também um meio de conjurar e adquirir o poder. Na Maçonaria, é a estrela Hominal dos pitagóricos, o símbolo da mais alta espiritualidade humana, signo da omnipotência e da autocracia intelectual.

O seu sentido mágico alquímico e cabalístico e o seu aspecto flamejante foram imaginados ou copiados por Cornélio Agrippa (1486-1533), jurista, médico e teólogo, professor em diversas cidades europeias. A magia, dizia ele, permite a comunicação com o superior para dominar o plano inferior. Para conquistá-la seria necessário morrer para o mundo. A Estrela de Cinco Pontas ou Estrela Hominal é também denominada com impropriedade etimológica, Pentáculo (cinco cavidades), Penta Grama (cinco letras ou sinais gráficos, cinco princípios) ou Pentalfa. É o número do centro, da harmonia e de equilíbrio.

Nos Mistérios Egípcios os Iniciados diziam que eram filhos da Terra e do Céu Estrelado e por isso, Agrippa representou o ser humano, nu e voando dentro dessa estrela pentagramática.

Mais tarde, o Pentagrama simboliza a relação da cabeça para os quatro membros e consequentemente da pura essência concentrada de qualquer coisa, ou o espírito para os quatro elementos tradicionais: Terra, Água, Ar e Fogo – o Espírito representado pela quinta-essência (a "Quinta-essência" dos alquimistas e agnósticos).

Talvez seja a figura mais frequente nos instrumentos de magia e usado em amuletos instrumentos de exorcismo. Com um vértice voltado para cima simboliza a magia branca, enquanto no inverso, ilustra a "magia negra".

Na linguagem simbólica, isto pode significar: Três entidades que interagem com duas entidades para criar uma entidade. Enquanto símbolo, torna-se o renascimento, formando uma ponte simbólica entre o céu (círculo) e a terra (quadrado). É um meio com que nós podemos examinar o relacionamento entre a Natureza – o Homem – o Criador.

Significa agora o microcosmo, símbolo do Homem Pitagórico que aparece como uma figura humana de braços e pernas abertas, parecendo estar disposto em cinco partes em forma de cruz; o Homem Individual. A mesma representação simbolizava o macrocosmo, o Homem Universal – dois eixos, um vertical e outro horizontal, passando por um mesmo centro. Um símbolo de ordem e de perfeição, da Verdade Divina. Portanto, "assim é em cima assim é em baixo", finalmente, mas não, o término do mistério, o símbolo da vontade divina.

O Pentagrama será a centelha que cada um de nós possui e que desenvolve no seu Universo Interior, representando os 5 estágios da vida do Homem: Nascimento, Infância, Adulta, Velhice, Morte.

As cinco pontas da Estrela ilustram, para o Grau de Companheiro, os cinco sentidos que estabelecem a comunicação da alma com o mundo material. Tacto, audição, visão, olfacto e paladar, dos quais três servem para a comunicação fraterna, pois é pelo tacto que se conhecem os toques, a audição oferece ao postulante as palavras, e é pela visão ele distingue os sinais. Mas não podemos esquecer o paladar, pelo qual podemos conhecer as bebidas e os alimentos, e o olfacto, que nos possibilita perceber as fragrâncias das flores e os aromas do altar de perfumes.

Relativamente ao Hominal, lembra ao postulante o dever de conhecer-se a si mesmo. No Grau de Companheiro é recomendado o dever de analisar as suas próprias faculdades e empregar bem os humildes poderes pessoais em benefício da Humanidade.

Por isso, do lado Sul, de onde a Luz se vai iluminando, pretende-se obter o destaque sobre o Esquadro um dos ramos do Compasso, mostrando que a razão já estará, em parte, liberta das paixões e preconceitos; ou, do ponto de vista místico, que o postulante vai caminhando para o equilíbrio entre o espírito e a matéria.

C.A.

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