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Ambiente. Equilíbrio e Harmonia.

Hoje, dia 22 de Abril, celebra-se o Dia da Terra, uma efeméride iniciada mundialmente em 1990.

Falar hoje de Ambiente é falar de alterações climáticas, da crise dos combustíveis fósseis, de poluição, de ordenamento do território, de conflitos com o Desenvolvimento. Mas é também falar de novas formas de produzir energia, de preservar um planeta que herdámos e deixaremos aos nossos vindouros, é falar da nossa presença efémera nesta Terra e tentar compreender as leis naturais responsáveis pelo desenho que é o milagre da Vida.

Na actualidade instala-se uma noção de que toda a Terra pode ser encarada como um só organismo vivo (é a Teoria de Gaia, descrita por James Lovelock em 1969, assim designada segundo a deusa grega da Terra). Mesmo que não assumida literalmente, esta noção dá-nos uma visão holística das questões ambientais adequada à globalização.

O planeta é um sistema dinâmico, com uma incomensurável capacidade de auto-regeneração, mas a partir de finais do séc. XX reconhece-se que esta capacidade não é, contudo, infinita.

Porque entramos numa era em que o que fazemos tem na verdade efeitos sobre o Ambiente.

O modo como nos relacionamos com o meio que nos rodeia, suporta e sustenta tem desde sempre determinado o sucesso das sociedades e civilizações. O acesso aos recursos e a sua disponibilidade têm, ao longo da História, desenhado os caminhos de muitos povos e aberto a senda da guerra em situações que hoje, mais do que nunca, se apresentam.

A água, os terrenos mais férteis, os mares mais ricos, os recursos minerais, são elementos de assentamento, fixação e florescimento do Homem. A sua procura tem também orientado muitos movimentos migratórios e rotas comerciais, tantas vezes ocultos sob bandeiras de Fé.

E a exploração, pelas sociedades humanas, dos recursos naturais teve, naturalmente, reflexos nas normas de conduta das sociedades, integrando os seus códigos legais, normativos ou regulamentares.

Por outro lado, as leis da Natureza a que aludi, aquilo que acredito serem as regras segundo as quais foi criado o Universo, foram desde sempre assumidas como divinas. Desde as mais primevas interpretações dos fenómenos da Natureza como manifestações divinas, das sociedades pagãs, até aos dias de hoje, em que os mais brilhantes e obstinados Homens de Ciência, pesquisadores da Verdade, reconhecem haver, no final de cada resposta que encontram, um novo caminho de procura e um sinal do Divino.

E é assim que encontramos, com maior ou menor ênfase, tratadas as questões ambientais e de gestão dos recursos naturais em alguns volumes da Lei Sagrada. É na Doutrina Islâmica que encontramos maior número de preceitos relativos a estas matérias, sendo apenas nesta década que a religião cristã assume como pecados algumas formas de atentado contra o Ambiente.

Se é verdade que questões ambientais há muito condicionaram o curso da História do Homem – ciclos prolongados de seca ou esgotamento de recursos levaram, como referimos, a guerras ou mesmo ao desaparecimento de civilizações – as consequências ambientais da evolução das sociedades apenas com a Revolução Industrial começaram a ganhar evidência. A Lei de Malthus, se bem que ainda centrada na produção alimentar, espelha a percepção de que os recursos são finitos e que a sua gestão apenas permite um incremento aritmético, enquanto que o crescimento demográfico se processa exponencialmente.

Mas é inexorável o impulso das civilizações para o desenvolvimento, mesmo se a aparente melhoria das condições de vida traz, a médio ou longo prazo, novos problemas. O desenvolvimento económico desenfreado – e não nos referimos ao seu maior expoente, a crise que actualmente atravessamos – tem fatalmente associadas injustiças sociais e, sobretudo, a delapidação de recursos que afectam tantos no presente e comprometem o futuro.

O desenvolvimento social não se pode obter sem a segurança económica que garanta condições mínimas de qualidade de vida para a generalidade das sociedades, o que também exige a perpetuação da garantia dos recursos naturais.

A conjugação dos vectores, económico, social e ambiental, traduz-se no desenvolvimento que, satisfazendo as necessidades do presente, apresenta a mesma garantia às gerações futuras: o Desenvolvimento Sustentável, esboçado na 1.ª Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em Estocolmo (1972) e definitivamente assumido pelo Relatório Brundtland, em 1987.

O tratamento internacional dado ao Ambiente ganhou o actual mediatismo na Conferência do Rio ou Cimeira da Terra, em 1992, com três grandes dossiers: as Convenções da Biodiversidade, das Alterações Climáticas e da Desertificação.

Cinco anos depois, em Quioto, o dossier das Alterações Climáticas ganhou corpo no Protocolo que recebeu o nome daquela cidade japonesa, formatando a atitude da maioria dos países relativamente ao ciclo do carbono. As questões abordadas neste dossier são aquelas que mais significativamente nos trouxeram a noção de que a capacidade de auto-regeneração do Planeta não é infinita…

O estado actual da Biosfera, a parte do planeta aonde ocorre a Vida, é também a resultante da atitude do Homem face ao ambiente que o rodeia e a todos os seres vivos que connosco partilham este espaço, neste tempo.

A adopção literal dos preceitos dos Volumes da Lei Sagrada, a forma como o Homem sempre olhou os recursos naturais, traduzem uma noção de que a Natureza se encontra total e incondicionalmente disponível para usufruto da espécie humana.

É este formato, antropocêntrico, que aplicado sem moderação ou planeamento levou a uma voragem no consumo de recursos e à extinção de tantas espécies, imitando nos seus efeitos, de forma desnecessária, algumas das piores catástrofes naturais.

Uma tomada de consciência da sustentabilidade exigida na atitude de governos e sociedades tem, como é próprio da natureza humana, aberto caminho para posições radicalmente contrárias à atitude predatória que maioritariamente caracterizou as civilizações, sobretudo as de missão ou vocação tecnologicamente mais activas.

O dever ético de respeito por todas as formas de vida e pela garantia de perpetuação dos recursos é um princípio que deve nortear a atitude do Homem. Mas o reconhecimento de que o Homem é parte da dita “Criação” não deve ser afastado em nome de qualquer assumpção de culpa na delapidação de recursos naturais ou na relação com outras formas de vida.

Enquanto espécie, somos parte do Planeta. Somos diferentes de todas as outras formas de vida. A nossa condição superior deve obrigar-nos a compreender todas as implicações da nossa presença na Criação, no Universo. O Ambiente e a Vida reflectem o que somos, mas nós estamos presentes e somos parte da Vida e do Ambiente.

Por estes conceitos, com esta atitude, o Homem deve usar todos os recursos disponíveis, em justa medida, mantendo o respeito por todas as outras formas de vida, quer directamente, quer por assegurar os recursos naturais a elas essenciais, e numa perspectiva de perpetuação deste quadro como garantia das gerações vindouras.

Para isso, importa compreender a satisfação das nossas necessidades vitais como função de uma presença individual efémera, mas integrada no projecto do Homem, a suprema criação do Divino.

Ao fim e ao cabo, não há nada de transcendental ou misterioso no tema Ambiente, apresentado a uma assembleia de não-especialistas. Os interesses pontuais, individuais, que são legítimos, não podem condicionar o equilíbrio universal, global.

Cada indivíduo, ou sociedade em particular, ao olhar o Ambiente e o Património Natural que o rodeia, deve procurar o melhor para si, mas garantindo uma harmonia na integração com a universalidade. O equilíbrio neste processo de interacção é magnificado pelo enquadramento do homem no meio ambiente. Destacando-se, não à custa do que o rodeia, mas porque mantendo intactas as funções ambientais, representa o que de melhor existe na condição do Homem.

Viver em harmonia com o Ambiente é, por isso, também ter bons costumes. E ser livre para fazer as escolhas certas no nosso caminho.

Os sentimentos de Equilíbrio e Harmonia com que pensamos o Ambiente são também os sentimentos com que devemos trabalhar, princípios que deviam ser para todos os Homens que se relacionam com o Ambiente uma referência e um farol.

C.A.

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